Expoflora 2019 – “Reusar para não comprar” resume propostas da Mostra de Paisagismo
São 19 ambientes nos quais profissionais de arquitetura, decoração, engenharia e construção, entre outros, oferecem sugestões para o uso de flores e plantas ornamentais em ambientes internos e externos em residências, escritórios e empresas, além de apontar as tendências de uma decoração cada vez mais sustentável
Em um mundo que exige o fim do desperdício e a redução do consumismo, ecologicamente correto é, sempre que possível, reaproveitar objetos e materiais. Os arquitetos, paisagistas, decoradores, engenheiros e designers que participam da Mostra de Paisagismo e Decoração da Expoflora 2019 entraram nessa “vibe” e mostram, em seus projetos, como a reutilização pode trazer interessantes resultados – econômicos e pessoais -, além de tornar os ambientes internos e externos de residências, escritórios e empresas bem confortáveis e agradáveis.
A preocupação com o meio ambiente e reaproximação do homem com a natureza também demonstram ser uma forte preocupação desses profissionais para assegurar uma melhor qualidade de vida em momentos cada vez mais competitivos e estressantes.

“A proposta de reaproveitamento não se refere apenas à economia de material. O reuso contribui também para o resgate da memória, para trazer as lembranças do passado que, hoje, aliadas às modernas soluções tecnológicas, contribuem para garantir melhor qualidade de vida. Precisamos avançar, sempre, sem perder a segurança que as nossas raízes proporcionam”, diz Karina Taccola, coordenadora da Mostra.

A Mostra de Paisagismo e Decoração é uma das atrações da Expoflora. Realizada em um imenso parque de 250 mil metros quadrados, o evento apresenta, ainda, a Exposição de arranjos florais, a Parada das flores e Chuva de pétalas, o Shopping das flores, o Passeio turístico por Holambra com visita a uma fazenda produtora de flores, parque de diversões, minissítio, Museu de Holambra, danças e gastronomia típicas holandesas.
MOSTRA DE PAISAGISMO
Ambiente 1 – Sustentabilidade na prática
Leonardo Celli Coelho e Karina Taccola (arquiteta, de Holambra)
Esta residência sustentável é representada pela garagem, cozinha, banheiro e estar. Os conceitos e soluções reais e viáveis de um futuro ultratecnológico são trazidos para o presente que já demanda outras formas de pensar, produzir, consumir, descartar, morar, viver e progredir. A garagem tem um “carport” (estrutura metálica coberta com sistema fotovoltaico) para, além de servir de abrigo, gerar a energia elétrica própria e renovável para recarregar as baterias de veículos elétricos, como carros, motos, ciclomotores, bicicletas e patinetes. São apresentados os tipos de processos de recarga e a rotina de quem já usa esses veículos. Essa energia abastece ainda a estufa criada por alunos da Unicamp.
Na cozinha, o lixo também é transformado em energia. O biodigestor residencial e modular é alimentado com sobras de alimentos, resíduos orgânicos e até com o esgoto do banheiro que se transforma em gás metano para ser utilizado no fogão. O equipamento também produz um biofertilizante que é aplicado nas plantas e na horta.
São de pallets a mesa com tampo de vidro, a prateleira para a pequena horta de temperos (sálvia, orégano, manjericão, pimenta, alecrim etc.), o suporte para a pia do banheiro, o mobiliário da sala, além da porta do sanitário, na forma de estrado de cama. Os bancos são de papelão e suportam até 100 kg. Detalhe para os cachepôs altos de papelão sanfonado. Materiais escolhidos para desmistificar o seu uso para essas finalidades e para estimular o pensamento sobre os potenciais de circularidade dos produtos consumidos em nossas casas.

Ambiente 02 – Biojardim
Rogerio Bernardes (laguista e paisagista, de Lençóis Paulista), Gustaaf H. M. Winters (biólogo e paisagista) e Martina T.E. Winters (empresária), ambos de Holambra
Os destaques são a biopiscina (piscina natural), o Spa de ozônio, o lago ornamental e a bioconstrução na parede. A biopiscina utiliza sistemas de filtragem naturais em vez de produtos químicos. A depuração se dá por meio de um filtro biológico e de plantas aquáticas filtrantes, submersas e flutuantes – que oxigenam e depuram dejetos – e por raízes acumulativas (que retêm as sobras de alimentos dos peixes). O processo garante a vida natural dos “lambaris rosa” que nadam em cardumes. Junto à piscina natural, o Spa é apropriado para a ozonioterapia, recomendada para o tratamento da pele, dos cabelos e até mesmo de algumas doenças. A carga de ozônio vem do próprio filtro.

A piscina natural e o lago ornamental estão ligados, dando a impressão de que todo o espaço foi alagado. As bombas e filtros são “abastecidos” com energia fotovoltaica. As placas indicam a quantidade de energia poupada graças à utilização desse sistema.

Ao fundo, a parede de bioconstrução, de pau a pique, utilizada pelos índios, se funde com outra técnica, conhecida como “Cordwood” (construção com lenha). Trata-se de uma parede feita com troncos de madeira, vidro reciclado e ferro, entre outros materiais, ligados com o barro. O jardim vertical é irrigado e adubado com o “dejeto” proveniente da filtragem da biopiscina e do lago ornamental – material riquíssimo em nutrientes compostos por nitrito, nitrato e fosfato. Esse ciclo de filtragem e irrigação é todo automatizado, com hora e data pré-programados. Nas paredes, foi utilizada a geotinta – feita com a própria terra do espaço, água, cola e cal – que, além de mais econômica, não contém derivados químicos.
Ambiente 3 – Remanso Tropical
Paula Brito (paisagista, de Campinas)
O conceito é de um jardim tropical, de fácil manutenção e exuberante em seu minimalismo e simplicidade pelo uso de apenas duas espécies de plantas em maior escala: as fortes palmeiras e as belas e rústicas bromélias. Um lugar para repousar os pensamentos ou desfrutar de bons momentos de bate-papo junto aos amigos e familiares, iluminados e aquecidos por um fogo de chão. As plantas escolhidas necessitam de pouca água.
Os quatro tipos de palmeiras (Rupícolas, Carandá, Latania Vermelha e Cabadae) mostram a possibilidade de combiná-los em um mesmo jardim, assim como as diferentes variedades de bromélias (Neoregelias Royal Burgos, Bossa Nova, Eva, Compacta, Correia Araújo e Imperial Rubra). O piso é drenante.
O chafariz quadrado, inspirado em fontes europeias, foi introduzido para apresentar a flexibilidade de interação de um jardim tropical a outros estilos paisagísticos. Nessa junção de estilos, os vasos na forma de taças italianas, em volta do chafariz, ostentam as brasileiríssimas bromélias.

Ambiente 4 – Jardim das Abelhas
Marcia Janeiro (paisagista e ambientalista, de Mairiporã)
Pensado para as pessoas que gostam de celebrar a vida e não abrem mão de um espaço harmônico junto à natureza, o jardim foi planejado para também garantir a preservação do meio ambiente. Assim, as 52 espécies diferentes de plantas – entre flores, árvores frutíferas, ervas aromáticas e plantas ornamentais – são um chamariz para as abelhas que cumprem o importante papel no planeta de promover a polinização – processo necessário para o surgimento de novas plantas e alimentos.
Tanto que, para as abelhas, especificamente, foram criados seis canteiros na forma de colmeias que abrigam muitas flores, como girassóis, rosas, pentas, gerânios e petúnias, entre outras. As casinhas, chamadas de meliponário, funcionam como abrigo para as abelhas sem ferrão, possibilitando a produção do mel e a reprodução das abelhas para a perpetuação da espécie, que está em risco de extinção devido às ações negativas do homem.

Para completar essa composição, a parede à direita foi transformada em um jardim vertical com ervas aromáticas e PANCs (plantas alimentícias não convencionais), possibilitando a colheita de temperos frescos e plantas ornamentais.
Ambiente 5 – Jardim em Festa
Roberta Cicivizzo Lazarov (designer de produtos, espaços, jardins e plantas) e Rose Faria (designer de plantas)
O ambiente é divertido e lúdico. Tem espaço para o piquenique, lugar para as crianças brincarem e um bar para os adultos. A mesa baixa para o lanche ao ar livre traz almofadas azuis e estampadas para quem quiser se sentar no chão. O tampo é todo feito de musgos, pimentas, suculentas, crótons e cúrcumas e decorado com Phalaenopsis. Ficam apenas os espaços para os jogos americanos. Ao fundo, um painel de crisântemos bola belga em amarelo, bronze e vermelho. No espaço kids tem espreguiçadeira, brinquedos, mesinha e uma amarelinha sensorial com casas de pedras, casca de pino, tijolo, areia e madeira. Tem até mesinha com guarda-sol e cabana de índio. Há vasos com critonias, minirrosas, miniantúrios e cúrcumas para compor o “primeiro jardim”. As primaveras pink são apresentadas moduladas por estruturas de ferro.
Do outro lado, para os adultos, o gastrobar mescla a antiguidade da madeira de demolição do balcão com os bancos altos de plástico. As kokedamas flutuam por todo o espaço, ora pequeninas, com flores mini, ora imensas, suportando bromélias, e até na forma de coração. Muito reaproveitamento de materiais de construção, de objetos de decoração e utilitários foi usado na ornamentação.

Daniela Vieira (arquiteta paisagista, de São Paulo) e José Maria da Silva (gestor ambiental, de Campinas)
É um jardim conceitual. Composto basicamente por madeira reciclada e plantas tropicais, estimula a criatividade nas diferentes formas de ver, sentir e interagir neste espaço lúdico.
Os pallets estruturam o ambiente formando uma passarela sinuosa que conduz o visitante para dentro do jardim e para o alto. A percepção do ambiente se transforma a partir das novas perspectivas que surgem ao caminhar entre os jardins suspensos de orquídeas e a parede verde. Sugere a imersão no cenário ao mesmo tempo em que se abre para além dos limites da Mostra.

Ambiente 7 – Espaço Gourmet
Luciano Marangoni Simões (paisagista, de Valinhos), Lucas de Castro Frigo (paisagista) e Marcos Caberlin (empresários)
Pedra, madeira e planta compõem o espaço para o churrasco. Sob o pergolado com cobertura de filetes de bambu, a mesa retangular com oito cadeiras tem as mesmas linhas do armário-cristaleira e da mesinha bistrô com cadeiras altas e banco – feitos de madeiras de demolição. Tudo é rústico – até as arandelas e os vasos de barro.
Sobre o fundo marrom escuro, desenhos de pássaros, flores e folhas em cores vibrantes da artista plástica Chris Quaglio estampam a parede sobre o canteiro de ráfias. No paisagismo, há a simplicidade da grama com pequenos canteiros de alpínia, moreia, guaimbê, bromélia imperial e Phalaenopsis no chão. No suporte – também em madeira, preso à base do pergolado -, nota-se a delicadeza da cravínia branca e rosa.

Luciano Marangoni Simões (paisagista, de Valinhos) e Lucas de Castro Frigo (paisagista)
Essa pracinha pode estar em qualquer canto, de qualquer esquina. Inspirada nas pequeninas praças portuguesas, ela traz o portão de ferro envelhecido sustentado por pilares de tijolos à vista para garantir a proteção do espaço. As arandelas são as sentinelas. Os bancos de madeira reaproveitada e o balanço são para o descanso e a tomada de fôlego necessários no vai e vem do dia a dia. O piso drenante ajuda a manter a umidade dos canteiros que cercam o pequeno espaço, assim como a fonte de tijolos e a cascata de concreto contribuem para manter o frescor. Ali, parecem ter crescido naturalmente a oliveira, a cerejeira e a laranjeira que agora ganham a companhia de moreias, kaizukas, lavandas, podocarpos, thunbergias e da quaresmeira. Espaço de baixo custo que pode ser copiado também num cantinho do quintal.
Ambiente 9 – Jardim Sunset
Mauro Contesini (engenheiro agrônomo, paisagista e designer, de Vinhedo)
Como o próprio nome sugere, o espaço é para quem admira o pôr do sol. Duas telas unidas formam uma imagem inspirada na Grécia, caracterizando o ambiente como praiano. Os quadros destacam-se na parede cor “Rio das Ostras” – uma ousadia do projeto – que a contrasta com o rosa das flores, dos balizadores e das cadeiras. Os ambientes se completam e criam uma única identidade. Tem o espaço mais confortável para explorar o convívio em família ou com os amigos, com dois sofás dispostos em “L”. Eles acomodam até sete pessoas confortavelmente, concebendo uma sala ao ar livre protegida apenas por ombrelones. Dois apoios em alumínio e vidro se acoplam aos sofás para uso diverso.
A espreguiçadeira – com design arrojado que lembra uma folha – e as almofadas macias com misturas padronizadas de estampas lisas e geométricas dispostas no chão foram pensadas para os mais jovens. Um terceiro espaço, demarcado com o uso de duas cadeiras na cor pink, é propício para a conversa mais reservada.
Todo o mobiliário tem estrutura de alumínio que pode ser reciclado. As cadeiras são de polietileno, fibras e tecidos sintéticos. Na cor pink, elas têm os pés em alumínio imitando madeira para deixar o ambiente mais vibrante e alegre. As mesas de apoio são de concreto. Prateleiras de madeira de demolição presas diretamente na parede otimizam o espaço e possibilitam a personalização com o uso de objetos e enfeites entre os vasinhos de cerâmica nas cores verde e rosa. As ideias são de fácil aplicabilidade.

Ambiente 10 – Cor e arte
Karina Taccola (arquiteta, de Holambra) e Tania Gine (artista plástica, de Jaguariúna)
Pensado como uma instalação, permite ao visitante interagir com o ambiente e, ao mesmo tempo, aproveitar ideias para compor um cenário temporário. No centro, um grande painel colorido de “raios de cor” chama o visitante para muitas selfies. Sob um painel, maciços de ráfias, num verde intenso, oferecem a sensação de profundidade ao painel, ampliando a perspectiva do desenho. Nas laterais, há zamioculcas e as delicadas, mas resistentes, angelônias – uma novidade que chega este ano ao mercado. Nas laterais, pergolados com tiras de tecidos em amarelo, rosa e azul oferecem sombreamento para os canteiros dos encantadores girassóis.
Sob os pergolados, folhas secas de árvores no chão criam um clima bucólico para o descanso no sofá – feito de grandes bolas de plástico. Em uma das extremidades do espaço está a galeria de arte. De um lado, delicadas aquarelas com pinturas de pássaros brotam das floreiras de peperômias. As ráfias também fazem o fechamento tendo ao fundo angelônias nas cores cereja e branco. No outro extremo, destaca-se a composição de vasos de zamioculcas, ráfias e yucas.

Allan de Oliveira (designer de interiores, de Artur Nogueira), Nayara Laurindo Pereira (arquiteta urbanista e designer de interiores, de Iracemápolis) e Renato Lima (designer de interiores)
Essencialmente masculino, o espaço harmonioso e funcional traz tons neutros para ser sofisticado e prático. Os amigos podem saborear um bom vinho no balcão de pedra granito e de pallet, mesma madeira reaproveitada para a construção do deck. Os caixotes de feira fazem as vezes da cristaleira e da adega. As folhagens – dispostas em vasos na adega – seguem exatamente as tonalidades das diferentes garrafas de vinho.
Destaque para a mesa posta para a refeição e para o espelho d’água, feitos de isopor® banhado em cimento. Eles estão interligados por um vinco de água corrente que escorre pelo centro da mesa, entre as louças, talheres, copos e taças, para formar a cascata que abastece o espelho d’água. Tudo para garantir mais frescor ao espaço. Nas paredes, revestimentos diferenciados, com e sem volume, criam esculturas em movimento. Tem uma intervenção de pintura e, no bar, o papel de parede foi substituído por um “lambe-lambe” (impressão em sulfite) com a temática do ambiente. A impermeabilização é feita com cola branca. O jardim é prático e de fácil execução e cuidados. As plantas escolhidas são samambaia, aspargo, begônia, tostão, agave azul, peixinho, mandacaru e suculentas.

Carla Dadazio (arquiteta)
A passarela que liga a varanda ao fundo do quintal é marcada pelo plantio retilíneo de folhagens, alternado por faixas de pedriscos, casca de pinus e por balizadores. O conceito urban jungle – floresta urbana – resgata o convívio com a natureza. Para tanto, foram usadas diversas folhagens de meia sombra e pleno sol, criando um mix de tons de verde e brincando com as cores das folhas das plantas. Entre elas, stromanthe, alocácia amazônica, calatheas, zamioculca, pata de elefante, cicas, strelitzia augusta, palmeiras, pacovas, chamaedoreas, bromélias, begônias rex, samambaias, aspargo pendente, peperômias e suculentas. Todas de baixa manutenção.
A área de convívio oferece sofá e poltronas de fibra e mesa de centro em tora. Na área de lareira, poltronas de corda náutica. Porta-retratos, arranjos de suculentas em pequenos troncos de árvores e minikokedamas decoram as mesas central e laterais. As paredes foram pintadas na cor “quentão”. Bem próximo ao espelho d´água, com uma fonte em vaso transbordante, fica o cantinho de lareira externa que pode ser transformada em churrasqueira. Cada lareira é singular, já que são feitas artesanalmente. Sua montagem é simples, rápida e limpa, sem a necessidade do uso de mão de obra qualificada. Ela pode ser desmontada e montada em outro local.

Ambiente 13 – Garagem Gourmet
Orpheu Thomazini (arquiteto urbanista e paisagista) e Cléia Thomazini (arquiteta urbanista, paisagista e decoradora de interiores)
Numa homenagem ao ícone do paisagismo Roberto Burle Marx, esta área de garagem traz elementos decorativos ousados e coloridos, em tons de laranja, azul turquesa e verde, cores do movimento de “contracultura” dos anos 1970. Essas cores vivas estão em todo o mobiliário, formado por bancos, cadeiras, pufes e divãs. Estacionados na garagem estão um antigo Opala vermelho-alaranjado, duas motos e duas bicicletas, todos daquela década. A jardineira suspensa é um para-choque reciclado. Na estante de caixas de madeira repousam o velho aparelho vermelho de televisão, discos de vinil e peças de carro. Na área gourmet, o balcão e as prateleiras são de concreto com granito verde. Os nichos em laranja combinam com a geladeira retrô. Os quadros do ambiente são dos artistas plásticos Paula Rochel e Charles Chaim, ambos de São Paulo. O piso é de madeira de pinus tratada e, na garagem, há um mosaico feito de pedras portuguesas preto e branco, remetendo ao calçadão de Copacabana, marca registrada de Burle Marx.
Na parede entre a cozinha e a sala de refeições, samambaias, oxalis e jiboias pendem sobre um grande painel de gesso pintado de branco e azul, como os mosaicos consagrados pelo homenageado. Sob o pergolado, está a extensa mesa de madeira para as refeições ao ar livre. As luminárias são de vidros reciclados, voltadas para as gravuras de mosaico picassiette. Flores coloridas, representadas pelas diferentes variedades de crisântemo, e plantas diversas – entre elas arecas e bismarckias – dão leveza ao jardim ondulado.

Marcelo Oliveira (engenheiro agrônomo e paisagista, de Niterói – RJ)
O ambiente retrata os terraços das sedes coloniais das antigas fazendas cafeeiras, onde as famílias se reuniam com vizinhos para contemplar as plantações e as novas safras. Era o modo de vida do século XIX, trazido pelos imigrantes que chegavam para iniciar uma nova vida em terras tropicais. A ordem é reusar – em vez de comprar. Assim, os móveis coloniais foram garimpados em antiquários, marcenarias e lojas especializadas. Os candelabros franceses de cobre têm lugar de destaque sobre a grande mesa de jantar enquanto que o de ferro fundido repousa sobre uma mesinha de pinho-de-riga com pés de forma de sapateiro. Os bancos são de madeira de demolição e a imensa porta de madeira de lei tem três metros de altura e quase dois de largura. O baú de madeira, usado como bagagem nos navios, foi transformado em mesa de centro. O oratório sobre a cômoda – com puxadores indianos de porcelana – protege a imagem de Nossa Senhora Aparecida, esculpida em madeira e guardada por arranjos nos quais prevalecem as minirrosas. Os porta-retratos homenageiam a Família Imperial Brasileira e os antigos colonizadores. O assoalho de pinus – utilizado em construções e envelhecido – imita os de tábua corrida. Os dois lustres antigos são de ferro e de cobre. Do quadro, a “nonna italiana” observa quem entra e quem sai.
Sobre a mesa retangular de madeira com tampo de ardósia, a toalha de linho branco de renda recebe as louças de porcelana portuguesa e um grande vaso de poinsettias vermelhas. O pergolado em tecido náutico reveza as estampas listradas com as de folhas de costelas de Adão.
No alpendre, as pedras arredondadas pesam mais de 200 kg cada e foram esculpidas à mão. As tinas de vinho viraram floreiras, assim como os dois cochos que alimentavam os animais, foram entalhados com machado para servir de jardineiras. Os pezinhos de café aparecem timidamente entre as mais de 250 mudas de lavandas.

Ambiente 15 – Paraíso Tropical
Cris Antonelli (arquiteta, paisagista e laguista, de Salto) e Ricardo Natalicchio (arquiteto urbanista, de Salto)
A novidade é a piscina de areia polimérica que forma uma espécie de prainha. Da rede, é possível sentir os respingos da água que desce da cascata de pedras naturais e artificiais em isopor®, incrustadas de bromélias. Nos suportes em verde e laranja da parede, há apenas vasos cônicos de papelão 100% reciclável. A prainha também pode ser curtida a partir das espreguiçadeiras de madeira de demolição. Bem próximo, o lago orgânico das carpas pode ser acessado pelo deque de dormentes ao lado do pergolado de madeira de engenharia (LVL), de alta resistência, utilizada também como elemento estrutural.
Os painéis ao fundo também são de EPS – Poliestireno Expandido (isopor®), fazendo uma releitura dos recursos da natureza. Eles foram revestidos de um composto cimentício pintado com tintas acrílicas e formam figuras de árvores, aves e plantas tropicais. As mandalas são de MDF, escolhidas pela sua naturalidade. O paisagismo apresenta cerca de 400 plantas entre bromélias, helicônias, alpínias, guaimbês, palmeiras, sunpatiens, clorofitos, colocasias, orquídeas, aspargos, pistias, aguapés, hibiscus e petit hibiscos, que formam a cerca viva rasteira do ambiente. Na cor laranja, esses minihibiscos são lançamento de 2019.

Patrícia Casselli (paisagista e artista plástica) e Filipe Casselli Goethe (engenheiro agrônomo, de Mairinque)
Como nos pátios dos antigos seminários, o jardim permite a sintonia entre a oração e a meditação com os elementos paisagísticos e decorativos de devoção. Grades, portões e janelas de ferro fundido e forjado remetem às igrejas. Eles foram recuperados das demolições de antigos casarões. Algumas das peças são do século XIX.
As esculturas religiosas, como as imagens de São Francisco e dos anjos que protegem a entrada, foram esculpidas em barro e cimento pelo artista plástico João Viana Guevara. O sino artesanal de bronze pesa 56 quilos e traz gravados a imagem da Sagrada Família e o brasão do Vaticano. O contrapeso, ao ser acionado, reproduz o som na nota musical Sol. O centro do espaço é livre, com bancos e poltrona de madeira apenas nas laterais.

Ambiente 17 – Ateliê Naturarte
Marisa Trippia (artista plástica, de Holambra)
Mesclar as suas obras à natureza, passando do abstrato para o real, já é a marca registrada desta artista. Marisa leva a natureza de suas telas para o paisagismo e os jardins para seus quadros. Para este ano, ela criou a personagem Hanna, que caminha pela estrada florida, trazendo na cabeça um cesto de kalanchoes naturais, dando a sensação de 3D. O caminho pintado no painel segue pelo ambiente transbordando essas delicadas flores em um degradê de tons rosas. Tecidos de Chita floral formam painéis ao lado da estrada e encapam os suportes de madeira que escoram os cestos de flores.
A arara azul voa em direção ao Sol depois de atravessar o corredor de peperômias sobre os tocos de madeira.
As flores da decoração foram escolhidas pelo que propagam: o kalanchoe, pela vibração das cores; a peperômia, pela harmonia; e a Neomarica Caerulea (falsa Íris), pela beleza rústica. A cor rosa predomina pelo romantismo, suavidade e ternura que transmite. Tudo para despertar as emoções e as possibilidades artísticas. Gravuras pintadas com tinta a óleo – com desenhos de flores e peixes – decoram o espaço. O ateliê conta com móveis de madeira de demolição e de peroba rosa. O tampo da mesa de dois metros de comprimento também traz um lago com carpas em 3D. Os cavaletes permanecem na exposição à disposição da artista, sempre pronta para novos trabalhos.

Allan Oliveira (designer de interiores, de Artur Nogueira – SP)
O trabalho é altamente sofisticado e moderno, dando nova vida aos insumos que seriam descartados e tornando a praça sustentável, com base no reaproveitamento de madeiras, troncos de eucalipto descartados, contêineres, paletts e blocos de concreto. A trama de treliça que sustenta a parede verde de aspargos alfinete e a estrutura do coreto são de pontaletes de eucalipto reaproveitado. Eles também servem de base para as heras que ficam em vasos, bem lá no alto, a três metros de altura. No centro do coreto, há sete grandes vasos de alfazema, para que o aroma se espalhe pelo espaço. Os bancos são de madeira reaproveitada e podem servir de descanso enquanto os visitantes saboreiam o café do bistrô, que foi instalado em um contêiner sobre um deque feito com pallets de baixo custo. O grafismo em branco – que faz flutuar as plumas da boca-de-leão – interage o espaço com o público por meio de fotos.
Detalhe para a decoração com vasos funcionais confeccionados com materiais de descarte, escolhidos pelo design diferenciado. Eles podem ser usados para cultivar plantas e flores ou, ainda, como bancos ou mesas. Vale observar também os jardins de “boas intenções”, nos quais as sansevierias (espadas de São Jorge) – que já asseguram proteção – tiveram suas folhas adesivadas com palavras de motivação. Vasos afunilados, na forma de suporte para as bolas de golfe, ostentam amaryllis brancas. Esses vasos são abertos na parte de baixo para o contato direto com o solo.

Cinara Libéria Pereira Neves (agrônoma, de Holambra) e Roberta Cicivizzo Lazarov (designer de espaços, eventos, jardins e plantas, de Holambra)
A sala de aula foi criada em um ambiente aberto e ajardinado e será destinada aos cursos práticos e com abordagens simples sobre flores – todos voltados para jardineiros ou meros amantes de plantas. As informações visam a enriquecer o cotidiano das pessoas, tanto nas dicas de como criar locais agradáveis com a utilização de variados tipos de plantas, quanto para decorar ambientes no dia a dia e em ocasiões especiais, como jantares, cafés etc. No ambiente, há um pouco de tudo: plantas de corte, ervas aromáticas ou condimentares, cactos e outras suculentas, folhagens, forrações e flores coloridas em vasos. São plantas de fácil acesso, encontradas em diversos tipos de estabelecimentos – nada exóticos ou diferentes -, com manejo simples para serem utilizadas em residências ou escritórios.
Móveis de demolição foram usados como bancadas e aparadores. Mesas de refeitório foram adaptadas para os alunos. A decoração foi feita com os vasos de polietileno, cerâmica, vidro e lata e com plantas diversas que serão utilizadas nas aulas. No piso de pedriscos e cascas de árvores, foram criados canteiros e colocados vasos de zamioculcas, kalanchoes, suculentas e musgos. Destaque para a árvore de gipsófila tinturada em vermelho, rosa, azul e amarelo. A miniestufa ajuda a proteger as plantas e a mantê-las nas melhores condições para o seu perfeito aproveitamento.
